Fisiopatologia da hipertensão arterial
Joel Cláudio Heimann, José Eduardo Krieger e Roberto Zatz
I. INTRODUÇÃO:
A função do sistema cardiovascular pode ser quantificada por meio de grandezas físicas. Uma destas é a pressão que o sangue exerce sobre a parede das grandes artérias, denominada pressão arterial. Alguns indivíduos desenvolvem, a partir de um determinado momento da vida, uma pressão arterial acima de certos valores aceitos como normais. A fisiopatologia desta elevação crônica da pressão arterial é uma temática muito complexa, até mesmo por não haver, ainda hoje, uma definição precisa de hipertensão arterial. Neste capítulo será discutida uma parte do que é conhecido a respeito dos principais mecanismos responsáveis pela geração e manutenção da hipertensão arterial.
II. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS DA HIPERTENSÃO ARTERIAL: A pressão arterial é uma variável cuja distribuição na população é gaussiana: os valores de pressão arterial distribuem-se de modo contínuo e simétrico entre um valor mínimo e um valor máximo (Fig. 10-1), o que torna difícil estabelecer um ponto de corte acima do qual o indivíduo passa a ser considerado hipertenso. Na verdade, a definição de hipertensão arterial tem de certo modo uma natureza estatística: trata-se de um desvio da normalidade, no qual os níveis pressóricos dos indivíduos acometidos situam-se cronicamente acima de um determinado limite, estabelecido por convenção. O limite atualmente adotado é o de 135 mmHg para a pressão sistólica e de 85 mmHg para a pressão diastólica. É comum o uso exclusivo do nível de pressão diastólica como critério diagnóstico, embora o efeito deletério da hipertensão sistólica esteja bem estabelecido. A dificuldade em se diagnosticar a hipertensão arterial é ainda agravada pela variabilidade da pressão arterial em cada indivíduo. A pressão arterial varia de acordo com a hora do dia, com o grau de atividade física e com o estado emocional,