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DO ‘CORPO SAUDÁVEL’ QUE SE (DES)CONSTITUI: IMPERATIVOS
MORALIZANTES RUMO À SAÚDE PERSECUTÓRIA? 1
Marcos Bagrichevsky
Universidade Estadual de Santa Cruz
Departamento de Ciências da Saúde
INTRODUÇÃO
Desde os dois últimos séculos a saúde vem se tornando cada vez mais relevante como eixo articulador entre Estado e população. É nessa direção que Foucault (1999) traduz a vida biológica como um evento político. Particularmente na atualidade, observa-se crescente ênfase discursiva a favor do envolvimento com (auto)disciplina e normas de comportamento na busca de se promover uma ‘boa saúde’ sem que, necessariamente, percebamos emergir na mesma medida, debates que problematizem o(s) significado(s) disso. O corpo, entendido em sua perspectiva mais ampla, é um privilegiado portador de sentidos da cultura, um locus singular onde pulsam e tomam forma diferentes noções de saúde/doença, de resistência e de subjugação, de prazer, de sofrimento e de dor. Michel
Foucault (1995) também argumenta que “o controle da sociedade sobre os indivíduos [...] começa no corpo, com o corpo. Foi no biológico, no somático, no corporal que, antes de tudo, investiu a sociedade capitalista.”
Corpo e saúde, objetos por excelência do poder sobre a vida na pós- modernidade, têm ocupado um espaço privilegiado como princípio ético, político e estético no governo de si e dos outros. Por certo, um outro corpo e uma outra saúde, constituídos nos deslocamentos de uma nova dinâmica de relações de poder, a biopolítica.
Prolongar a vida ao máximo, multiplicando suas possibilidades, desviando seus acidentes e compensando suas deficiências e incapacidades tem sido palavra de ordem no contexto vigente de nossa ‘civilização’. Nesse sentido, pode-se afirmar até que o culto ao corpo tornou-se signo identitário de um modo de vida e de integração ou, inversamente, um novo critério de desfiliação que tem por base a lógica do consumo. Para tal perspectiva, a saúde pode ser concebida como