filosofia
"João e Maria" começa realisticamente. Os pais são pobres, e se preocupam como poderão cuidar dos filhos. Juntos, de noite, discutem o futuro deles, e o que poderão fazer por esse futuro. Mesmo em nível superficial, o conto de fadas folclórico transmite uma verdade importante, embora desagradável: a pobreza e a privação não melhoram o caráter do homem, mas, sim, o tornam mais egoísta e menos sensível aos sofrimentos dos outros, e assim sujeito a empreender feitos malvados.
O conto de fadas expressa em palavra e ações as coisas que se passam nas mentes infantis. Em termos da ansiedade infantil dominante,
João e Maria acreditam que os pais estão tramando abandoná- los enquanto conversam. Uma criancinha, quando acorda faminta na escuridão da noite, sente-se ameaçada por uma rejeição e abandono completos, que ela experimenta sob a forma de medo de morrer de fome. Projetando a ansiedade interna sobre aqueles que as ameaçam de deserção, João e Maria estão convencidos de que os pais planejam deixá-los morrer de fome! De acordo com as fantasias infantis de ansiedade, a estória diz que até então os pais foram capazes de alimentar os filhos, mas que agora caíram numa fase de declínio. A mãe representa a fonte de toda a alimentação para os filhos, e por isso agora ela é que é vista como abandonando-os numa selva.
É a ansiedade infantil e a decepção profunda quando Mamãe não encara mais de bom grado todas as suas solicitações orais, o que a leva a crer que subitamente Mamãe se tornou egoísta, rejeitadora e pouco amorosa. Como as crianças sabem que necessitam desesperadamente dos pais, tentam voltar para casa depois de abandonadas.
De fato, João consegue encontrar o caminho de volta da floresta na primeira vez em que eles são abandonados. Antes da criança ter coragem de empreender a viagem para se encontrar, para se tornar uma pessoa independente pelo encontro com o mundo, só pode desenvolver a iniciativa tentando voltar à passividade, para garantir- se de uma