filosofia
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PREÂMBULO
Ninguém pode filosofar em nosso lugar. É evidente que a filosofia tem seus especialistas, seus profissionais, seus pro- fessores. Mas ela não é uma especialidade, nem uma profis- são, nem uma disciplina universitária: ela é uma dimensão constitutiva da existência humana. Uma vez que somos do- tados de vida e de razão, coloca-se para todos nós, inevi- tavelmente, a questão de articular uma à outra essas duas faculdades. É claro que podemos raciocinar sem filosofar
(por exemplo, nas ciências), viver sem filosofar (por exem- plo, na tolice ou na paixão). Mas não podemos, sem filoso- far, pensar nossa vida e viver nosso pensamento: já que isso é a própria filosofia.
A biologia nunca dirá a um biólogo como se deve vi-
- ver, nem se se deve, nem mesmo se se deve fazer biologia.
As ciências humanas nunca dirão o que a humanidade vale, nem o que elas mesmas valem. Por isso é necessário filoso- far: porque é necessário refletir sobre o que sabemos, sobre o que vivemos, sobre o que queremos, e porque nenhum sa- ber basta para empreender essa reflexão nem nos dispensa dela. A arte? A religião? A política? São grandes coisas, mas também devem ser interrogadas. Ora, a partir do momento em que as interrogamos, ou nos interrogamos sobre elas um pouco profundamente, saímos delas, pelo menos em parte: já damos um passo para dentro da filosofia. Nenhum filó- sofo contestará que esta, por sua vez, tenha de ser interroga- da. Mas interrogar a filosofia não é sair dela, é entrar nela.
Por que caminho? Segui aqui o único que conheço de fato, o da filosofia ocidental. O que não quer dizer que não haja outros. Filosofar é viver com a razão, que é universal.
Como a filosofia poderia ser reservada a alguém? Ninguém ignora que há, especialmente no Oriente, outras tradições especulativas e espirituais. Mas não dá para falar de tudo
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vontade de se aprofundar um pouco mais, se puder ajudá-lo