Quero falar das crianças de hoje em dia e das bombas que carregam em suas mãos antes mesmo de serem vocacionadas ao terrorismo. Eu corria tanto pelos campos, pela terra seca de pés descalços, empinava pipa e brincava do mais revolucionário brinquedo já inventado por uma criança grande, o LEGO. Eu inventava meus próprios brinquedos, histórias, brincadeiras com os átomo de Demócrito e, sobretudo, não me deixava escravizar pelas propagandas de bichinhos de pelúcia ou patinetes, patins, carros motorizados, computadores, toda essa parafernália que toma conta de uma infância que a cada dia é mais adulta , mais séria e mais curta. Aí vem a parte interessante, os adultos daquela época que têm filhos agora parecem ter esquecido que brincar é saudável e, mais ainda, fato crucial, brincar é divertido. As crianças crescerem depressa impulsionadas pela falta de criancices que lhe é imposta pelos próprios pais, tios, tias, primos é a modernidade, um fato do século XXI que significa que os seres humanos estão mais evoluídos, mais preparados para a vida. É nesse momento que os pais dão aos filhos suas bombas e os tornam potenciais terroristas prontos para começarem a destruição em massa da infância da geração seguinte. Vamos acabar vendo, já na maternidade, bebês de negócios fumando um charuto cubano e assistindo o jornal nacional, já sabendo o que é horário nobre e vida de pobre. Chamam isso de avanço. Querem saber? Avanço mesmo é voltar ao tempo que vendia sacolé na vendinha da esquina, que jogar bola era brincadeira de rua e não espetáculo para olheiro de time grande ver, que o maior desafio do universo era fazer um peão de madeira rodopiar na palma da mão, que a verdadeira brincadeira estava dentro de si mesmo, em um mundo imaginado pela inocência da criança, um mundo dela, só dela que, com ela, fazia maravilhas. Desarmem essas crianças, por favor, antes que chegue a elas a próxima geração, o próximo dia das crianças