Propõe-se aqui a apresentar o modo como Sartre tematiza o conceito de “liberdade” na quarta parte de seu livro O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Ainda que a liberdade seja o tema da filosofia sartriana como um todo, e esteja presente em toda a sua obra (filosófica ou ficcional), no trecho do ensaio supracitado, o autor aborda especificamente a questão de um modo bastante objetivo e esclarecer, iluminando e correlacionando a temática da liberdade com os principais conceitos de O ser e o nada (e sobretudo seus escritos das décadas de 1940 e 1950). A quarta parte de O ser e o nada, intitulada “Ter, fazer e ser”, expõe a liberdade concreta, em situação, em oposição a uma liberdade abstrata. Ter, fazer e ser são categorias cardeais da realidade humana, que permitem clarificar a conduta do para-si buscando, incessantemente, ser um em-si-para-si. Sartre diz que com isso se pode entender o para-si a partir da ação, em que esta é pura expressão da liberdade. A liberdade, nesse sentido, é compreendida como nadificação, não tem essência, daí a crítica de Sartre a toda forma de determinismo. Em Sartre, a liberdade não é uma qualidade ou característica a mais no homem, como se, além de ser homem, se fosse livre. O homem é livre, liberdade e homem são a mesma coisa na filosofia sartriana, em que se fazer, agir, ou seja, escolher, é tentar ser definitivamente – o que resulta em ser condenado à liberdade e fracassar. A partir do modo como Sartre tematiza a liberdade, é possível entender que um motivo ou móbil só pode fazer sentido e ter importância para uma ação-escolha segundo um determinado projeto original do para-si (de tentar ser um em-si), o que acaba por expor os conceitos de “angústia” e “responsabilidade” correlacionados à