FIlosofia
Ronaldo Helal e Márcio Souza Gonçalves*
Introdução
Nos últimos anos, uma onda do que convencionou-se chamar de reality shows invadiu a programação da televisão brasileira. Na esteira de sucessos em outros países, a rede Globo lançou o No Limite e o Big Brother
Brasil. O SBT, após se envolver em uma polêmica sobre direitos da programação televisiva, produziu o Casa dos Artistas. Apesar da competição entre os participantes, comum em todos estes reality shows, o estilo dos programas difere no gênero da disputa. Enquanto em “No Limite” os participantes se envolvem em competições físicas que requerem, além de espírito atlético, força de vontade para superação de alguns obstáculos escatológicos - comer minhoca ou bichos estranhos, por exemplo -, o Big
Brother Brasil e o Casa dos Artistas envolvem competições de cunho mais sutil e indireto, baseadas sobretudo na conquista da simpatia dos membros da casa e da opinião pública, e é a invasão de privacidade o principal espetáculo de atração para o público. Esta característica voyeurista destes programas merece uma análise mais cuidadosa dos estudos da teoria da comunicação, para que possamos compreender melhor o significado da relação entre mídia e poder nas sociedades contemporâneas.
Destes programas, o Big Brother Brasil foi o que obteve os maiores índices de audiência, chegando, no último capítulo, a alcançar 57 pontos de média e picos de 62, recorde para o horário na televisão brasileira1.
Interessante notar que o título e o formato do programa foram inspirados em um romance - 1984 de George Orwell - que nos alertava para o perigo de estarmos caminhando para uma sociedade controlada por teletelas e por uma figura fictícia criada pela propaganda oficial: o Grande Irmão.
Passados pouco mais de 50 anos, o temor ao totalitarismo cedeu lugar à sedução pela “invasão da privacidade” em programas televisivos.
* Professores da