Filosofia
1. Pecado e Verdade
O título desta série de conferências talvez devesse ser “Pragmatismo e anti-autoritarismo”. Interpretarei a objeção dos pragmatistas de que a verdade é uma questão de correspondência à natureza intrínseca da realidade em analogia à crítica iluminista sobre a noção de que a moralidade é uma questão de correspondência com a vontade de algum Ser Divino. Encaro a posição dos pragmatistas sobre a verdade, e de modo mais geral, sua posição anti-representacionalista do conhecimento, como um protesto contra a ideia de que os seres humanos devem se submeter ante algo não humano, seja a Vontade de Deus ou a Natureza Intrínseca da Realidade. Então, começarei por desenvolver uma analogia que eu penso ser central ao pensamento de John Dewey: a analogia entre parar de acreditar no Pecado e parar de acreditar que a Realidade tem uma natureza intrínseca.
Dewey estava convencido de que o romance da democracia – isto é, considerar o objetivo da vida humana como sendo a livre cooperação com os pares com o objetivo de melhorar a situação atual – demandava uma versão mais completa de secularismo que aquelas atingidas tanto pelo Iluminismo quanto pelo positivismo do séc. XIX. Isso nos exige que abandonemos qualquer autoridade, exceto àquela fornecida pelo consenso de nossos pares. O paradigma de sujeição a tal autoridade é acreditar que alguém esteja em estado de Pecado. Quando a noção de Pecado entra em jogo, Dewey pensava, também entra o dever de buscar por uma correspondência ao modo como as coisas realmente são. No seu lugar, uma cultura democrata poria o dever de buscar acordos não forçados com outros seres humanos a respeito de que crenças vão sustentar e facilitar projetos de cooperação social.
Para ter uma noção de Pecado, não é suficiente que você esteja intimidado pelo modo como os seres humanos tratam uns aos outros e pela sua capacidade própria de fazer o mau. Você tem que acreditar que há