filosofia
Desidério Murcho
Universidade Federal de Ouro Preto
1. Lógica e a natureza da filosofia
Estudar filosofia é bastante diferente de estudar história ou física. Estudar estas disciplinas é sobretudo uma questão de compreender os resultados estabelecidos pelos historiadores e pelos físicos, e raciocinar sobre isso. Mas em filosofia não há resultados desse gênero para que possamos limitar-nos a compreendê-los.
Os problemas mais importantes da filosofia estão em aberto; ou seja, não há um consenso entre os especialistas quanto à sua solução. Por isso, há quem considere que não é judicioso estudar filosofia do mesmo modo que se pode estudar história ou física.
O ensino destas últimas disciplinas consiste quase exclusivamente em compreender os resultados consensuais dessas disciplinas; não se aprende propriamente a fazer história ou física. Isto porque se considera que para poder fazer tais coisas é preciso estudar primeiro durante muitos anos para se conhecer todos os resultados consensuais dessas disciplinas. Mas em filosofia quase não há resultados consensuais. A maior parte do que temos em filosofia são problemas em aberto; diferentes filósofos apresentam diferentes respostas, mas nenhuma ganha o gênero de consenso que há na história ou da física.
Sobre o livre-arbítrio, por exemplo, ou sobre a natureza da arte, temos várias respostas filosóficas incompatíveis entre si, sem que haja um consenso sobre qual delas é a mais plausível. Assim, é avisado aprender a discutir os méritos e deméritos das diferentes respostas dos filósofos, ao invés de nos limitarmos a compreendê-las. Ora, aprender a discutir é em grande parte aprender a raciocinar e a argumentar. E isso é precisamente o que a lógica aplicada tem por missão ensinar-nos a fazer. Daí a importância da lógica na filosofia. Ou seja, se queremos não apenas compreender as idéias dos filósofos, mas também ganhar a autonomia para avaliar a sua plausibilidade, a lógica é um