Filosofia
De Marilena Chaui
Ed. Ática, São Paulo, 2000.
Unidade 1
A Filosofia
Capítulo 2
O nascimento da Filosofia
Ouvindo a voz dos poetas
Escutemos, por um instante, a voz dos poetas, porque ela costuma exprimir o que chamamos de “sentimento do mundo”, o sentimento da velhice e da juventude perene do mundo, da grandeza e da pequeneza dos humanos ou dos mortais.
Assim, o poeta grego Arquíloco escreveu:
E não te esqueças, meu coração, que as coisas humanas apenas mudanças incertas são.
Outro poeta grego, Teógnis, cantando sobre a brevidade da vida, dizia:
Choremos a juventude e a velhice também, pois a primeira foge e a segunda sempre vem.
Também o poeta grego Píndaro falava do sentimento das coisas humanas como passageiras:
A glória dos mortais num só dia cresce, Mas basta um só dia, contrário e funesto, para que o destino, impiedoso, num gesto a lance por terra e ela, súbito, fenece.
Mas não só a vida e os feitos dos humanos são breves e frágeis. Os poetas também exprimem o sentimento de que o mundo é tecido por mudanças e repetições intermináveis. A esse respeito, a poetisa brasileira Orides Fontela escreveu:
O vento, a chuva, o sol, o frio Tudo vai e vem, tudo vem e vai.
E o poeta brasileiro, Carlos Drummond, por sua vez, lamentou:
Como a vida muda. Como a vida é muda. Como a vida é nuda. Como a vida é nada. Como a vida é tudo. ... Como a vida é senha de outra vida nova ... Como a vida é vida ainda quando morte ... Como a vida é forte em suas algemas. ... Como a vida é bela ... Como a vida vale mais que a própria vida sempre renascida.
O sentimento de renovação e beleza do mundo, da vida, dos seres humanos é o que transparece nos versos do poeta brasileiro Mário Quintana, nos seguintes versos: