filosofia no brasil
A FILOSOFIA NO BRASIL
(1950)
1. Observações Preliminares. — Cumprindo seu destino e sua vocação, o pensamento filosófico brasileiro mais do que criativo é assimilativo das idéias alheias e, ao invés de abrir novos rumos, limita-se a assimilar e a incorporar o que vem de fora. Daí a história da filosofia no Brasil ser, em geral, uma história da penetração do pensamento alheio nos recessos de nossa vida especulativa, ser, em suma, a narrativa do grau de compreensão da nossa capacidade de assimilação nas diferentes épocas e do nosso quociente de sensibilidade espiritual. Quererá isto dizer, em resumidas contas, que a filosofia no Brasil equivale às vicissitudes do pensamento europeu em nosso país? Até certo ponto a resposta poderá ser afirmativa, desde que vivemos — e conosco a toda a América —, como observou Herbert Schneider, na "franja da cultura européia". Mas cumpre lembrar que desde o Descobrimento até hoje sofreu o Brasil uma experiência histórica de quatro séculos e se entre a imitação do "modelo" e a compreensão do "exemplo" optamos pelo mais cômodo, através da deformação do modelo — que é inseparável de toda imitação — encontramos a nossa "originalidade". Porque é fora de dúvida que o pensamento sofre as influências da vida; sendo impossível à planta negar o húmus que lhe dá vida — sob pena de perecer — também é impossível a qualquer pensamento fugir à influência do nacional. À base dessa, por assim dizer, ecologia espiritual, afirma acertadamente Cruz Costa que "este nacional é o que estaria na base da reintegração que fazemos dos modelos europeus e o que impediria uma total identificação nossa com o sentido da problemática do pensamento europeu que nos foi e ainda é transmitido. Assim, no processo de nossa identificação com tais problemas, há uma reintegração destes,
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da qual resulta o modelo passar por uma deformação na qual já aponta uma certa originalidade que se verificaria no sentido que assumem, para