Filosofando
Claudia Campos Soares | UFMG
Resumo: O presente trabalho apresenta algumas reflexões sobre o ponto de vista de “Campo geral”, a primeira do conjunto de sete novelas que Guimarães Rosa chamou de Corpo de baile. “Campo geral” é narrada em terceira pessoa, mas seu leitor apreende os acontecimentos ficcionais a partir da perspectiva de Miguilim, um menino que tem entre 7 e 8 anos de idade – e que é, ademais, míope. Este ponto de vista imprime determinadas características à narrativa, que este trabalho se propõe a investigar. Palavras-chave: Guimarães Rosa, “Campo geral”, ponto de vista.
questão do ponto de vista sempre desempenhou papel importante na obra de Guimarães Rosa, escritor que se formou num período marcado nos meios intelectuais brasileiros, pela busca de uma atitude crítica diante da realidade nacional e também de formas mais adequadas para representá-la. A primeira versão de Sagarana já estava pronta em 1937, quando o escritor concorreu com o livro, então intitulado Contos, ao Prêmio Humberto de Campos, promovido pela Livraria 1 José Olympio. Daí até os anos 50, década em que Guimarães Rosa publicou Corpo de baile e Grande sertão: veredas (ambos de 1956), operavam-se grandes mudanças na sociedade brasileira, que se modernizava e enfrentava grandes
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1.
NASCIMENTO, 2001, p. 53.
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O eixo e a roda: v. 14, 2007
indefinições institucionais. Foi este também um período caracterizado, nos meios intelectuais brasileiros, por um profundo interesse pelos aspectos constitutivos de nossa cultura. Na literatura, repercutiam ainda intensamente os questionamentos e as proposições dos modernistas de 22. Um dos problemas que se colocava naquele momento para um escritor como Rosa, que se interessava pela tendência regionalista, era a questão de como representar o universo rústico do sertão. Como se sabe, embora seja originário da região que recria literariamente e demonstre profundas afinidades com ela, Rosa era também um homem