fidel castro
por PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
Doutor em Ciências Sociais, diplomata, autor de vários trabalhos sobre relações internacionais e política externa do Brasil
A História não o absolverá
Fidel Castro e seus amigos brasileiros: um caso de renúncia à inteligência? Certa fração da chamada intelligentsia brasileira – aquela que se considera de esquerda e, a esse título, se apresenta como aliada objetiva de Cuba socialista – não deixou de demonstrar sua comoção com o agravamento do estado de saúde de seu líder favorito: Fidel Castro. Inúmeras manifestações na imprensa confirmaram a preocupação de alguns representantes desse grupo nos dias seguintes ao anúncio de sua hospitalização, sob a forma de expressões públicas de solidariedade e de votos calorosos pelo seu pronto restabelecimento, manifestações apenas contidas pela ausência de maiores informações sobre seu real estado de saúde. Poucas vozes, aliás, se levantaram contra o fato de que vários jornalistas – que tentaram, nas horas e dias seguintes, aumentar um pouco o grau de informação pública sobre esse estado – tenham sido sumariamente expulsos da ilha, quando quiseram cobrir o episódio.
Um traço comum às diversas manifestações desse setor da intelligentsia, um clube hoje bem mais restrito do que no passado, apareceu nas entrelinhas das declarações feitas sobre a figura política do líder cubano: um número expressivo dos integrantes desse grupo acredita que Fidel Castro passará à história como um dos grandes homens de Estado do século XX. Pode até ser que Fidel Castro entre, efetivamente, na categoria dos estadistas – provavelmente bem mais do século XIX do que do XX, e certamente não do século XXI –, mas essa característica própria aos estereótipos correntes sobre grandes figuras históricas não deveria, a rigor, impedir essa mesma intelligentsia de reconhecer no homem, ou na figura política, o que ele é, de fato, neste século ou em