Fichamento: saramago e o romance histórico
1. [...] “O texto de José Saramago, na construção de seu universo ficcional, faz da história, matéria da literatura, estabelecendo um diálogo tenso com o passado, para buscar o sentido (a razão) da contemporaneidade. Ciente de que a vida é vivida no jogo do imaginário que se torna senso comum e a história é contada, o discurso releva a importância e os limites da memória (individual e coletiva), que precisa ser permanentemente reativada, em relação a um passado que é irrecuperável, ruína e vestígio do que foi ou poderia ter sido”.[...]
[...] “O romance de Saramago incorpora a concepção da modernidade sobre a ficção, que não se vê mais como expressão individual do sujeito ou modelo mítico da nação, como fazia entender o Romantismo, nem o retrato do observado, como desejava o Realismo-Naturalismo, mas como espaço e processo de construção de mundo, na diversidade da representação, na mesma medida de uma compreensão da História como discurso, referência a um passado presumível, de que faz seu correlato intencional”. [...]
2. [...] “O romance histórico, na melhor tradição de Walter Scott, realizado com êxito, na literatura portuguesa, por Alexandre Herculano, faz o passado absorver o presente, como cânone de compromisso e exemplo para o comportamento social e político, transformando o respeito à tradição em um ato de contrição religiosa. O romance de Saramago faz o presente buscar um diálogo crítico com o passado, na tentativa de encontrar um sentido para o tempo, múltiplo, mutável e construído pelo homem, pleno de potencialidades que se irrealizaram.” [...]
[...] “Essa diferença se revela na forma discursiva, decorrente de uma concepção do próprio discurso. O romance histórico se deseja a representação afirmativa de uma realidade exemplar, a ser repetida (...) como única possibilidade de felicidade. O narrador se apresenta como evangelista, aquele que anuncia uma verdade, assumindo o