fichamento: Fantasiar, sonhar e viver
Cap. 2 de o livro O BRINCAR E A REALIDADE, de D. W. Winnicott
Diferenças existentes entre as variedades do fantasiar. O contraste entre o fantasiar e o sonhar.
Diferença essencial entre o fantasiar e as alternativas do sonhar, por um lado, e o viver real e o relacionar-se a objetos reais, por outro. (pag. 48)
Sonhar e viver pertenciam à mesma ordem, o devaneio era de outra ordem. O sonho ajusta-se ao relacionamento com objetos no mundo real, e viver no mundo real ajusta-se ao mundo onírico por formas que são bastante familiares, especialmente a psicanalistas. Em contraste, porém, o fantasiar continua sendo fenômeno isolado, a absorver energia, mas sem contribuir quer para o sonhar quer para o viver. (pag. 48)
Outra característica diferenciadora entre esses dois conjuntos de fenômenos está em que, embora boa parte de sonho e de sentimentos pertencentes à vida tenha probabilidade de se achar sob repressão, isso constitui algo diferente da inacessibilidade do fantasiar. Essa inacessibilidade está relacionada à dissociação e não à repressão. (pag. 49)
As diferenças qualitativas podem ser extremamente sutis e difíceis de descrever; as grandes diferenças, porém, dizem respeito à presença ou à ausência de um estado de dissociação. Por exemplo, a paciente está em minha sala, em tratamento, e tem à sua disposição um pedacinho de céu que pode contemplar, nesse fim de tarde. Ela diz: 'Estou ali, naquelas nuvens róseas, e posso caminhar entre elas'. Essa observação, naturalmente, poderia ser um vôo da imaginação. Poderia fazer parte da maneira pela qual a imaginação enriquece a vida, tal como poderia constituir material para sonho. Ao mesmo tempo, para minha paciente, essa mesma coisa pode ser algo que pertence a um estado dissociado, e que pode não se tornar consciente, no sentido de nunca existir uma pessoa total que se dê conta dos dois ou mais estados de dissociação presentes em uma ocasião determinada. (pag. 49)