Fichamento do livro de rubem alves
PERSPECTIVAS
* Houve um tempo que em os descrentes, aqueles que não acreditam em Deus e até mesma na religião, eram raros. Eles eram tão raros, que eles até se escondiam, por vergonha de não ter amor a Deus, como se ela fosse alguma peste. O universo físico se estruturava em torno da drama da alma humana. E talvez essa seja a marca de todas as religiões: o esforço para pensar a realidade toda a partir da exigência de que a vida faça sentido. * Mas alguma coisa ocorreu. A ciência e a tecnologia avançaram triunfalmente, construindo um mundo em que Deus não era necessário como hipótese de trabalho. * A situação mudou, no mundo sagrado, a experiência religiosa era parte integrante de cada um, uma pessoa sem religião era uma anomalia. No mundo dessacralizado as coisas se inverteram, pois confessar-se religioso, equivale a confessar-se como habitante do mundo encantado e mágico do passado. E o embaraço vai crescendo na medida em que nos aproximamos das ciências humanas, justamente aqueles que estudam religião. * É preciso reconhecer a religião como uma presença invisível, sutil, disfarçada, que se constitui num dos fios com que se tece o acontecer do nosso cotidiano. O estudo da religião está longe de ser uma janela que se abre apenas para panoramas externos, é como um espelho em que nos vemos.
OS SÍMBOLOS DA AUSÊNCIA * O mundo humano, que é feito com trabalho e amor, é uma página em branco na sabedoria que nossos corpos herdaram de nossos antepassados. * Nossa tradição filosófica fez seus sérios esforços no sentido de demonstrar que o homem é um ser racional, ser de pensamento. * Símbolos assemelham-se a horizontes, quando nos aproximamos deles, mais fogem de nós. A religião é teia de símbolos, rede de desejos, confissão da espera, horizonte dos horizontes, a mais fantástica e pretensiosa tentativa de transubstanciar a natureza. * O sagrado não é uma eficácia inerente às coisas. Ao contrário, coisas e