FICHAMENTO CHALOUB

As políticas de dominação vigentes na sociedade brasileira do século XIX poderiam ser apropriadamente descritas como paternalistas. A característica de tais políticas de domínio (...) era a imagem da inviolabilidade da vontade senhorial. O mundo era representado como expressão dessa vontade, com todos os poderes convergindo para o alto de uma pirâmide imaginária, sustentada por uma tecnologia própria, manifesta em “rituais de afirmação, práticas de dissimulação, estigmatização de adversários, eufemismos e todo um vocabulário para sustentar e expressar essas atividades”.
Machado de Assis foi um escritor que teve uma grande sensibilidade para perceber e expor estas tecnologias de dominação em suas obras. De Helena a Iaiá Garcia, são demonstrados trechos que exemplificam sua maestria para tanto. A partir da análise em destas obras, tanto de Machado como de escritores contemporâneos, Chaloub conclui que a ideologia de sustentação do poder senhorial incluía a autoimagem de uma sociedade em que a consciência dos lugares sociais dos indivíduos definia-se na verticalidade, não fugindo das formas instituídas de dependência, hierarquia e autoridade, sendo a medida do sujeito, portanto, definido pelas relações pessoais nas quais está inserido. Assim, os sujeitos do poder senhorial definiam-se pelo monopólio numa economia de favores, nunca cedendo a pressões e jamais reconhecendo direitos adquiridos em lutas sociais. Todo o indivíduo que fugisse das referências de verticalidade que sustentavam essas formas de manifestação paternalista, não existiria socialmente.
Na ideologia do paternalismo é central o ocultamento dos interesses e solidariedades horizontais dos subordinados ao poder senhorial, sendo o mundo em que tal ideologia predominava era um fruto da idealização dos senhores, a projeção de seu imaginário, que sonhavam viver na realidade. Sonho impossível, como Machado de Assis bem demonstrou por meio tanto das crenças ingênuas personagens como Bentinho e Estácio, quanto