FICHAMENTO 1. A Ditadura Militar no Brasil: uma incômoda memória.
A Ditadura Militar no Brasil: uma incômoda memória.
Talvez seja necessário refletir sobre as raízes e os fundamentos históricos da ditadura militar, as complexas relações que se estabeleceram entre ela e a sociedade, e, num contraponto, sobre o papel desempenhado pelas esquerdas no período.
É o que o presente texto pretende fazer. Começando pelo início: o processo que desembocou na instauração da ditadura. Em seguida, estudar o desenvolvimento dos governos ditatoriais, as oposições de esquerda, os programas alternativos apresentados, o impacto que tiveram, sempre no contexto de uma sociedade que, afinal, nunca se rebelou de forma radical contra a Ordem vigente. E observar, finalmente, como se foi extinguindo a ditadura militar, redefinindo-se, transformando-se, transitando para uma democracia sob formas híbridas, mudando de pele como um camaleão muda de cores, numa lenta metamorfose, a ponto de provocar polêmicas a respeito de quando, efetivamente, terminou.
Nossa escolha recai em 1979, quando deixou de existir o Estado de exceção, com a revogação dos Atos Institucionais, e foi aprovada a Anistia, ensejando a volta do exílio dos principais líderes das esquerdas brasileiras. Daí em diante, abriu-se um período de transição, até 1988, quando a aprovação de uma nova Constituição restabeleceu as condições de um pleno Estado de Direito em nosso país.
E assim, da ditadura fez-se a democracia, como um parto sem dor, sem grandiloquência, cordialmente, macunaimicamente, brasileiramente.
2. Abril, 1964: a gênese da ditadura ou a derrota do projeto nacional-estatista.
Uma primeira chave, mais ampla, engloba a América Latina, e, a rigor, o Terceiro Mundo em seu conjunto. Remete à questão da viabilidade do projeto de construção da autonomia no contexto do mundo capitalista. Com efeito, desde a Segunda Revolução Industrial, de fins do século XIX, frente às grandes potências capitalistas, colocou-se para uma série de sociedades o desafio de construir uma