Fernando pessoa
O amor, quando se revela, não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela, mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente.
Cala: parece esquecer.
Ah, mas se ela adivinhasse, se pudesse ouvir o olhar, e se um olhar lhe bastasse pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala; quem quer dizer quanto sente fica sem alma nem fala, fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe o que não lhe ouso contar, já não terei que falar-lhe porque lhe estou a falar…
“O Amor quando se revela” Fernando Pessoa Ortónimo
Análise do poema "o amor, quando se revela"
Sendo o poema, um poema que toca o tema do amor, não se pode certamente considerar como um poema de amor.
Isto porque, como é hábito em Pessoa, muitas das vezes os temas mais simples são processados, refinados, intelectualizados, de maneira a que a mais simples exposição de ideias nunca é apenas uma exposição de sentimentos.
Isto nota-se ainda mais quando são poemas ortónimos, escritos em nome de Fernando Pessoa, porque sem artifícios ou máscaras transparece frágil e sem cor o sentimento de estar perdido no mundo, de fragilidade, de incapacidade e tristeza - marcas indeléveis do carácter do poeta e que encontravam na sua poesia o escape natural.
"O amor, quando se revela, / Não se sabe revelar. / Sabe bem olhar p'ra ela, / Mas não lhe sabe falar."
É curiosa a maneira como Pessoa olha para o amor. Em vez de elogiar o amor, Pessoa fica perturbado pela maneira como o amor se revela em si mesmo. É a incapacidade de sentir, ou de pelo menos de transmitir, de comunicar o sentimento, que é o verdadeiro tema deste poema, e não o amor, o sentimento.
Não sei até que ponto a interpretação de Pessoa pode ser uma interpretação Universal do amor. Penso que não é, que é uma interpretação tão íntima que muito nos diz da maneira como o poeta sentia as coisas e nada mais do que isso. Por isso mesmo quando