Fernando Pessoa e a infância
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Rui Miguel de Azevedo Rodrigues*
RESUMO
Reflexão sobre a obra pessoana, o presente estudo incide sobre o tratamento da temática da infância, dando conta da sua persistência e simbologia, ao mesmo tempo que identifica alguns textos de potencial recepção infantil onde a figura de Fernando Pessoa é recriada.
Uma leitura dos poemas ortónimos de Fernando Pessoa deixa de forma clara a ideia de que os primeiros anos da sua vida permanecerão para sempre presentes até ao fim de
Novembro de 1935; a saudade de um passado glorioso que é, no momento da enunciação do discurso poético, irremediavelmente pretérito perpassa por grande parte da sua obra.
É mesmo a essa época da sua vida que atribui a origem, ou o aparecimento, dos amigos imaginários, que se desenvolverão mais tarde em heterónimos e que constituem uma das maiores conquistas poéticas da literatura portuguesa. Porém, a ideia de um passado de ouro que não volta não é exclusivamente aliável à infância.
A imensa sensibilidade de Pessoa permitiu-lhe dispor de uma versatilidade temática que, mesmo sujeita a um pressuposto fixo, a saudade por algo melhor que o momento presente, se desenvolveu poeticamente por meio de variadas situações, momentos, episódios, sensações. Como é óbvio, pela publicação da Mensagem, independentemente das verdadeiras razões que terão levado o autor a publicar aquele livro (BLANCO, 2006), não é apenas pela memória da infância que Pessoa dá corpo poético à sua saudade.
Trabalho inédito realizado no âmbito do seminário de “Literatura Portuguesa” do Mestrado em Línguas, Literatura e
Culturas – Estudos Portugueses.
* Mestrando em Línguas, Literatura e Culturas – Estudos Portugueses (Universidade de Aveiro).
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Antes de mais, deve-se referir que a saudade, na sua obra, não remete apenas, como tradicionalmente, para um tempo anterior, uma aurea aetas, um Éden para sempre cerrado pela