Fenomenologia
Henriette Tognelli Penha Morato
Guanabara Koogan
Cap. 9 “ Atenção Psicológica em Instituição: Plantão Psicológico como Cartografia Clínica”
Alguns pontos de reflexão:
O PLANTÃO PSICOLÓGICO NA FEBEM
“Dois lados do mundo... A FEBEM era quase que um outro mundo que precisaria ser desvendado. Na busca de algo para nos sustentar e proteger, tínhamos como objetivo primeiro encontrar a referência de nosso olhar em nos mesmos, parecendo atentos a cada uma de nossas sensações, formando como que uma rede de cuidado. E assim poder olhar para fora, caminhar, estranhar, surpreender-nos, percorrer cada vestígio, investigar...”
“Em um lugar de vigilância e controle, con-vivendo a exclusão confinada de um estrangeiro, propusemos a inclusão de um espaço em que adolescentes e funcionários pudessem refletir sobre suas experiências sem a ameaça de relatórios, denúncias, críticas ou juízos de valor. Nosso sigilo e constância construíram a confiança necessária para a aproximação de adolescentes e funcionários, para que coisas pudessem ser ditas, regras pudessem ser contestadas. Era o momento em que ator instituído podia dar espaço ao sujeito que pensa, sonha, ama, odeia... “
Fala de um garoto: “Eu não posso ser do jeito que eu sou... eu me obrigo a esquecer um monte de coisas para sobreviver!” E ele disse que, enquanto está conversando com alguma de nós, aproveita o momento para esvaziar, para ouvir coisas diferentes, sentir-se ele mesmo... acha fundamental ter esse espaço e apoderar-se dele para que não perca o sentido das coisas... sentido do mundo lá fora... do mundão!
O Plantão se tornava um tempo para lembrar num espaço que obrigava a todos “esquecer um monte de coisas para sobreviver”. A Febem escancarava a não privacidade e o aprisionamento do sujeito em nome da sobrevivência de um ator institucinal. Clinicar em tal contexto era também cuidar do privado no espaço público.