Fazer rir a verdade
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Fazer Rir a Verdade: Teoria e prática pós-modernas em O Nome da Rosa [Fonte: Peter Bondanella, Umberto Eco e o Texto Aberto, Lisboa, Ed. Difel, 1998, pp. 105-137.] Quando Eco publicou a sua primeira obra de ficção, em Setembro de 1980, um romance passado na Idade Média, ninguém (e menos ainda o próprio autor) era capaz de imaginar o sucesso internacional sem paralelo que teria. Em Itália Eco era bem conhecido do público letrado, por causa da fama das suas anteriores obras teóricas sobre a cultura popular, a teoria da narrativa e a semiótica. Além disso, colaborava regularmente no principal jornal italiano,1'Espresso, colaboração essa que começara em 1965 e acabaria por garantir ao jornal uma coluna semanal («La Bustina di Minerva»). Por outro lado, também passará a contar com um numeroso grupo de discípulos nas universidades italianas ao publicar um popular manual de preparação de teses em Ciências Humanas, de acordo com as normas de licenciatura nestas instituições do saber em Itália: Como Si Fa Una Tese di Laurea: Le Materie Umanistiche (manual este tão popular quanto o são nos Estados Unidos o MLA Handbook ou o Chicago Manual of Sty1e). Por conseguinte, não surpreendeu o bom acolhimento crítico do romance de Eco em Itália e a atribuição do prestigiado Prémio Strega, em 1981. Porém, era impossível imaginar o acolhimento popular sem precedentes, tanto em Itália como no estrangeiro, com dezenas de milhões de exemplares vendidos no mundo inteiro e traduções para cerca de trinta línguas. Para os seus críticos mais violentos, os «intelectuais apocalípticos» que desconfiavam de qualquer intelectual cujo interesse pela cultura popular o tivesse tornado famoso, o sucesso internacional de Eco só confirmava as suas suspeitas quanto à orientação seguida pela sua evolução intelectual. Em 1986, o realizador francês Jacques Annaud fez um filme de O Nome da Rosa, com Sean Connery (actor que fazia parte do elenco habitual dos filmes de James Bond, que Eco analisara