Falar sozinho
Uma das perguntas mais comuns, quando se toca em psicologia, é a preocupação que as pessoas têm em falar sozinhas, em discutir consigo mesmas.
Segundo Pichon, a personalidade se constrói numa relação bi-pessoal entre o eu e o outro que existe dentro de mim. Esse outro eu é uma imagem com a qual discuto enquanto penso, é como se eu falasse comigo mesmo. Pichon busca o fundamento teórico nos conceitos de id, ego e superego de Freud, onde o ego (indivíduo) se localiza entre os anseios e desejos do Id (volição interna) e as regras e repressões do superego (valores absorvidos). O pensamento é uma atividade lingüística, uma vez que pensamos em palavras, queremos entender os sentimentos e transformá-los em palavras que provoquem o entendimento do que estamos sentindo.
Quando sentimos algo, estamos trabalhando com sentimentos, como se agíssemos com o coração. No entanto a cabeça quer participar do acontecimento e procura entender o que está se passando. Mas a cabeça não entende sentimentos, pensa em palavras. Aí começa o desentendimento entre o coração e a cabeça, o desentendimento do eu comigo mesmo pode até gerar uma discussão interna, um desentendimento, uma insatisfação.
O conhecimento internalizado através da educação familiar, escolar, religiosa, e do convívio social forma um outro eu dentro da gente: O eu que a gente acha que os outros acham que gente deve ser. Este outro eu, dentro de cada um, costuma discutir com o eu original que tem desejos nem sempre aceitos ou aprovados.
Esse dinamismo é perfeitamente normal em todo mundo. [...]
Entre os orientais é muito comum a meditação, processo que parte do diálogo interno, o eu mesmo com o outro eu, até que essa conversa acabe de vez, onde os dois “eus” internos se entendam, ou pelo menos diminuam o ritmo da discussão, passem a conversarem. É a busca do pensar em nada.
[...] Em resumo, falar sozinho, discutir consigo mesmo, não é loucura. Muito pelo contrário, é bastante saudável, pelo menos até