Exercício do Olhar, Ouvir e Escrever na Antropologia e na Medicina
O fazer do antropólogo engloba o ato de olhar, ouvir e escrever. Sendo que, o olhar e o ouvir são as bases para a construção do texto etnográfico. Essa textualização é feita através da junção entre o teórico da disciplina, no caso a Antropologia, e o que é analisado pela observação ativa do pesquisador. Essas “faculdades” do espírito, elucidadas por Roberto Cardoso de Oliveira em seu texto O Trabalho do Antropólogo, também estão presentes no fazer médico. A relação entre o médico e o paciente deve ser pautada em princípios semelhantes aos da Antropologia, na medida em que o médico deve estabelecer uma intercomunicação com o paciente, utilizando-se de um olhar sensibilizado, de um ouvir aguçado e de um escrever, ou melhor, prescrever adequado. O olhar e o ouvir no âmbito da Antropologia são caracterizados pela minúcia em observar os detalhes numa abrangência holística do ambiente do pesquisado e no escutar outro idioma com sensibilidade, procurando estabelecer uma relação dialógica. É buscado, assim, como diria Roberto Cardoso de Oliveira, uma “fusão de horizontes”, em que o olhar e o ouvir se complementam e é estabelecida uma verdadeira interação entre o etnólogo e o nativo. Na Medicina, o olhar e o ouvir também desempenham papéis fundamentais na comunicação médico-paciente. Mas, diferentemente do antropólogo, o médico possui uma visão clínica e, muitas vezes, desatenciosa com as sutilezas do ser humano. Esse olhar menos amplo pode prejudicar a relação, o que resulta em falhas no diagnóstico e perda de uma melhor efetividade do tratamento do paciente. Às vezes, por exemplo, uma enfermidade que afeta o corpo não se cura por causa de um problema psicológico do indivíduo. Esse caso evidencia que uma breve análise da condição física de um paciente provavelmente não é capaz de revelar tal fato. Além disso, frequentemente o