antropossociologia
acesso em 30-01-2014
Etnográfica versão impressa ISSN 0873-6561
Etnográfica vol.16 no.3 Lisboa out. 2012 Como nos tornamos antropólogos? Imprevisto e mutualidade na constituição do terreno etnográfico da saúde mental em Lisboa
How do webecomeanthropologists? Unexpectednessandmutuality in thefieldworkof mental health in Lisbon Madalena Patriarca*
*Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Portugal. E-mail:madalena.rolim@sapo.pt RESUMO
Este artigo trata da necessidade de o antropólogo integrar os imponderáveis do terreno na descrição etnográfica enquanto condição de produção de conhecimento antropológico. Ao longo do trabalho de campo que realizou em Lisboa e visava compreender como os psiquiatras aprendiam a sua profissão, a autora foi sendo defrontada com entraves diversos à observação de alguns serviços psiquiátricos hospitalares. Foi ainda surpreendida pela desconfiança explícita de muitos psiquiatras quanto à possibilidade de a abordagem etnográfica conseguir traduzir “com fiabilidade científica” a identidade social deste grupo profissional. Porém, da incessante procura de novos lugares para observar, a par de uma reflexão constante sobre as dificuldades sentidas no trabalho de campo, a investigação resultou na descoberta inesperada, não de um serviço de psiquiatria, mas de toda uma cartografia histórico-psiquiátrica intimamente ligada com as dinâmicas do quotidiano da cidade. Recorrendo ao seu material etnográfico a autora repensa, assim, categorias como reflexividade, intersubjetividade e representação, e propõe-se encarar a pesquisa de campo como processo de aprendizagem do próprio antropólogo.
PALAVRAS-CHAVE: antropologia, etnografia, epistemologia, interação, psiquiatria. ABSTRACT
Underwhatconditionscanunexpectedness in thefieldworkbecome a wayofanthropologicalknowing? Howcanwewriteaboutsilenceandtheconcealed?