Exercicio funçoes da linguagem
Vinicius Torres Freire
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Criticar as instituições brasileiras é quase de graça, de tão ruins que são. O ataque ao Congresso é um dos mais baratos. Mas muita vez é apenas reação primitiva diante das complexidades da vida.
O político lombrosiano, larápio e vadio é uma das figuras mais vivas do folclore, já que o saci e a mula-sem-cabeça foram obnubilados pelos mitos de TV, videogames e pelo Halloween.
O deputado mitológico é uma colagem de coronéis antigos, oligarquias carcomidas, o “doutô” falante, gravatas sobre barrigões, a face visível do Estado quase sempre ausente ou presente no mais das vezes na forma de polícia, impostos, notícias de corrupção e favores. É o dono de fazenda, avião e usufrutuário de churrascos à beira da piscina, uma imagem popular da utopia pessoal no Brasil.
Mas coisas como bater ponto ou a duração do recesso são debates de gente que lê e pensa?
A maioria do Congresso é uma oligarquia parasitária porque pendurada na burocracia e no governo: não há Orçamento, mas liberações de favores, nem meritocracia pública, mas apaniguados da máquina. Porque os movimentos sociais quase inexistem. Porque o povo é condenado à ignorância. Porque a Justiça não dá cadeia para o lobby da propina empresarial e política. Casuísmo, político ou financeiro, move a maioria.
Os nomeados do Supremos são ruins? Tome casuísmo contra Lula. Mas o Congresso pode barrar as nomeações para o STF, assim como para o Banco Central, para as agências etc. E nada. O sistema financeiro é uma mixórdia legal e o BC faz o que quer? Faz 16 anos que a Constituição mandou regular a finança nacional e nada. O Judiciário vive no século 16? O governo edita MPs demais? Nada.
Isso quase nada tem a ver com recesso, com deputados irem a suas bases fazerem política (são políticos), mas com instituições carcomidas e capturadas, falta de conflito social vivo e de debate menos burro.
Folha de São Paulo, 17 de