etnografia
GILMAR ROCHA resumo As inúmeras possibilidades e problemas colocados pela etnogra�a à re�exão epistemológica na antropologia fazem dela uma importante categoria de pensamento, por meio do qual se revela o sentido do ofício (“fazer”) dos antropólogos. Assim, a etnogra�a pode ser vista como um gênero de performance cujo signi�cado ultrapassa as fronteiras das culturas nativas, alcançando o campo cultural do antropólogo. Performance, neste estudo, representa um modo de auto-re�exividade social em que o antropólogo, através da narrativa, busca ampliar o “campo” da antropologia. Apontar alguns momentos desse processo de re�exividade etnográ�ca é o objetivo deste texto, sendo a obra de Marcel
Mauss (1872-1950), um exemplo privilegiado. palavras-chave Etnogra�a. Performance.
Narrativa. Marcel Mauss.
“Agora somos todos nativos...”
Cli�ord Geertz
O ofício de antropólogo
Por muito tempo, a etnogra�a correspondeu à descrição dos costumes de um povo ou tratado sobre as gentes. Apesar desses costumes, de gentes e povos representarem diferentes formas de experiências culturais, em geral diferentes da cultura do etnógrafo, nutria-se a ilusão de que tais descrições eram isentas de juízos de valor. O que muda com a institucionalização da antropologia como ciência social nos séculos XIX/XX é que as descrições sobre as experiências humanas e culturais, de povos e gentes diferentes, passam a considerar a pessoa do antropólogo. Se até esse momento a �gura
do etnógrafo era distinta da do antropólogo, no início do século XX elas se fundem em uma única personagem. O resultado foi o surgimento do antropólogo social ou cultural como o conhecemos hoje. Um pro�ssional com formação acadêmica e que tem no trabalho de campo um método de pesquisa, a “etnogra�a”, sendo a legitimidade desta conquistada por meio da observação-participante. Desde então, etnogra�a tornou-se sinônimo de trabalho