etica
Mas o dilema tem solução. O Homem é um animal ético e a moral é autónoma. Ao contrário dos outros animais, o Homem vem ao mundo por fazer e tem de fazer-se, realizar-se a si mesmo. E qual é o critério da acção humana boa senão precisamente a adequada e plena realização do ser humano? A exigência moral não surge do facto de se ser crente ou ateu, mas da condição humana de querer ser pessoa humana autêntica e cabal, plenamente realizada, de tal modo que o teólogo Andrés Torres Queiruga pode escrever, com razão: se se pensar fundo, "não existe nada que no nível moral deva fazer um crente e não um ateu, contanto que tanto um como o outro queiram ser honestos". Se dissentirem em muitas opções, isso não acontecerá propriamente por motivos religiosos, mas morais, devido à dificuldade em saber qual é muitas vezes a decisão correcta.
Então, por paradoxal que pareça, autonomia e teonomia coincidem. De facto, se se aceitar, como é o caso da perspectiva cristã, que Deus cria por amor, o que é que Deus pode querer e mandar senão precisamente a adequada e plena realização da pessoa humana? Na criação por amor, o único interesse de Deus só pode ser o Homem vivo, realizado e feliz.
Mesmo que não possam ser separadas, moral e religião distinguem-se. A prova está em que se pode ser não religioso e moral: não é verdade que, "se Deus não existir, tudo é permitido". Por outro lado, o crente também sabe que a religião, embora a implique, não se reduz à moral.
De qualquer modo, a religião pode contribuir para a moral, de múltiplos modos. A religião autêntica