Estudante
Professora: Carla Guedes
Texto 1:
Trecho extraído de:
Nogueira, M. I. A reconstrução da formação médica nos novos cenários de prática profissional: um novo estilo de pensamento? Relatório de pós doutorado. Instituto de Medicina social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
O olhar anátomo-clínico: a criação da experiência médica moderna
Foucault inicia o prefácio de O nascimento da clínica (1980) com uma sentença explicativa contundente sobre o seu projeto: “Este livro trata do espaço, da linguagem e da morte; trata do olhar.” A partir deste anúncio constrói uma narrativa sobre o deslocamento histórico de uma medicina clássica, uma medicina fundamentalmente humoralista, cujo objeto é a doença como essência abstrata, para uma medicina anátomo-clínica, uma medicina do corpo e das lesões. Tal deslocamento se processa, segundo o autor, em torno dos últimos anos do século XVIII, e apresenta-se como uma ruptura de tamanha grandeza, que permite à medicina “apresentar-se” como medicina científica. Ao descrever a especificidade desse novo olhar - fundado na objetividade -, Foucault nos explica de que forma essa reorganização conseguiu abarcar também o sujeito, tornando-o objeto de seu discurso: O olhar não é mais redutor, mas fundador do indivíduo em sua qualidade irredutível. E assim torna-se possível organizar em torno dele uma linguagem racional. O objeto do discurso também pode ser um sujeito, sem que as figuras da objetividade sejam por isso alteradas. Foi esta reorganização formal e em profundidade, mais do que o abandono das teorias e dos velhos sistemas, que criou a possibilidade de uma experiência clínica: ela levantou a velha proibição aristotélica; poder-se-á, finalmente, pronunciar sobre o indivíduo um discurso de estrutura científica. (Foucault, 1980, XIII)
Camargo Jr. (2003) nos adverte sobre essa delimitação foucaultiana, argumentando que a mesma não é