Estudante
É batata – ou melhor, é cebola: corte uma em pedaços para fazer o refogado e em poucos segundos as lágrimas rolam bochechas abaixo. Mas se a receita mandar apenas tirá-la de sua embalagem natural e jogá-la inteira no cozido, não há o menor problema. Não precisa ser Sherlock Holmes para deduzir onde está a causa de toda a choradeira: no corte da cebola. Também é o corte, diga-se de passagem, que perfuma o refogado. Cortar, amassar ou triturar alhos e cebolas resulta na destruição de milhões de células, que liberam seu conteúdo: é aquele caldinho que suja a faca. Nele estão, entre outras coisas, um sulfóxido do aminoácido cisteína e enzimas chamadas alinases, que provocam a transformação do sulfóxido em ácido propenilsulfênico. Aquele perfume maravilhoso do refogado vem a seguir, com a transformação espontânea do ácido propenilsilfênico em tiossulfinato: este é o mocinho cheiroso da história. O vilão ardido é outro. O tiossulfinato cheiroso não é o único resultado da reação desencadeada pela destruição das células. O ácido propenilsufênico, dizia-se, também se transforma espontaneamente em propanotial - S -oxido – este sim o fator lacrimogêneo volátil que irrita os olhos e dispara o reflexo de produção de lágrimas em abundância. São tantas que o duto lacrimal, que despeja para dentro do nariz as lágrimas constantes que limpam e lubrificam os olhos, não dá mais conta. Resultado: transbordamento de lágrimas. Oque é a melhor coisa que poderia acontecer aos seus olhos, já que você insitiu em expô-los a uma substância irritante... Aqui você já deve estar se perguntando: se tantos alhos como cebolas, parentes próximos em espécie e cheiro, tem sulfóxido de cisteína que é transformado pela análise em ácido propenilsulfênico que vira espontaneamente tanto o cheiroso tiossulfinato quando o ardido fator lacrimogêneo propanotial – S – óxido, por que diabos fator lacrimogêneo não faz chorar? Ah... A resposta