estamira
Marcos Prado registra o tratamento psiquiátrico, com atendimento pela rede pública, de Estamira. Pode-se perceber a mudança de comportamento e do discurso dela, efeitos dos medicamentos que toma diariamente. Seus filhos relatam sua história, revelando em cada detalhe o sofrimento vivido por ela. A mãe de Estamira também era portadora de distúrbios mentais, tendo vivido no hospital psiquiátrico D. Pedro II, no engenhão.
Apesar de revelar um quadro psicopatológico, Estamira parece mesmo é sofrer de um “excesso de consciência” o que demonstra através de sua fala:
“lixão é o depósito dos restos. Resto e descuido. Conservar é proteger as coisas e procurar usar o quanto pode...”
Estamira foi uma mulher que passou por muitas experiências traumáticas e que se encontra mais em sua loucura do que na sua normalidade. Ela nos encanta quando apresenta em sua fala momentos de uma sábia lucidez demonstrando conhecimentos de diversos temas, tais como:
· Química – quando explica todo o processo do gás carbônico produzido no lixão;
· História – ao se referir à princesa Isabel e aos escravos: “ os trabalhadores são escravos disfarçados de libertos...”
· Política – quando fala: “igualdade é igual a comunismo...”
· Sociedade – “quem determina o que é feio e bonito é a civilização...”.
· Consciência social – quando fala da condição humana: “quanto menos as pessoas tem, mais as pessoas menospreza...”
· Biologia – quando diz: “sou formato homem par...”.
· Sociabilidade – apresenta ter um bom relacionamento com a família e os amigos do lixão.
De forma mágica o discurso de Estamira passa da lucidez desnuda para o delírio,