Espiritualidade
Contemplação e discrição segundo o autor d’A nuvem do não-saber*
Introdução A nuvem do não-saber é um tratado sobre contemplação que terá sido escrito pouco depois de 1390 Ao seu autor (um anónimo inglês que escrevia em vernáculo) são atribuídas mais seis pequenas obras, a saber: O livro dos conselhos particulares, Epístola sobre a oração, Epístola sobre a discrição, Teologia Mística (uma tradução do De Mystica Theologia, de Pseudo-Dionísio Areopagita), Benjamim (uma tradução e adaptação do Benjamim Menor, de Ricardo de São Vítor) e O discernimento dos espíritos (uma amálgama de dois sermões de São Bernardo , com vários acrescentos originais) A tendência da crítica actual vai cada vez mais no sentido de aceitar pacificamente que tanto A nuvem do não-saber como os outros títulos citados se devem realmente a um só e o mesmo autor. Nesta conferência, também adoptarei essa posição, e procurarei expor brevemente o pensamento do anónimo inglês sobre as relações entre a contemplação e a discrição, recorrendo à totalidade dos escritos que lhe são atribuídos Dividirei a minha exposição em três partes: a primeira tratará do que se deve entender por contemplação; a segunda abordará a discrição enquanto via para se chegar à contemplação; a terceira será dedicada a demonstrar que, em última análise, a própria virtude da discrição depende da graça da contemplação Entremos, então, sem mais delongas na primeira destas três questões
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1. A contemplação é caridade Na terminologia do nosso autor, a contemplação é normalmente designada pela palavra “trabalho” (work), e quem se quiser entregar a essa actividade
Publica-se aqui o texto de uma conferência proferida pelo autor no decurso da XXXI Semana de Estudios Monásticos, que teve lugar em Salamanca de 30 de Agosto a 05 de Setembro de 2007 John P H CLARK, The Cloud of Unknowing: An Introduction, Salzburg, 1995, vol 1, 92 Bernardo de CLARAVAL, Sermones de diversis, 23-24: PL 183, 600-605
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126 Lino Correia