Entrevista
Leandro Konder
Para tentarmos entender melhor como se estabeleceu a relação de Walter Benjamin com o marxismo e o que o marxismo representou para ele, não podemos, certamente, nos limitar à história de amor com Asja Lacis, a combativa militante comunista letoniana, mulher do diretor teatral alemão Bernhard Reich. Benjamin se apaixonou por ela, os dois estiveram juntos na Itália, em seguida ele foi vê-la em Riga, depois foi visitá-la em Moscou, quando ela estava internada numa clínica para doentes nervosos
(como se dizia naquele tempo).
Por mais interessante que seja, essa história de um amor infeliz
– como costumavam ser os amores benjaminianos – não nos esclarece a respeito da interpretação dada por Benjamin às idéias pelas quais as conversas com Asja Lacis o levaram a se interessar.
Até hoje, não se sabe com certeza quais os textos de Marx e Engels que Benjamin leu com atenção e na íntegra. Seus escritos e sua correspondência, entretanto, deixam claro que, em meados dos anos 1920, ele leu História e consciência de classe, de Georg Lukács, e ficou indelevelmente marcado pelo livro.
Desde o seu primeiro contato com o marxismo, portanto,
Benjamin se entusiasmou por uma linha de interpretação do pensamento de Marx que divergia das versões doutrinárias adotadas tanto pelo establishment social-democrático como pela direção do movimento comunista.
O que Benjamin encontra no marxismo não é tanto um sistema conceitual constituído, sólido, maciço, mas um admirável conjunto de conceitos que já surgem vocacionados para radicalizar a crítica à sociedade burguesa e para impulsionar a revolução contra o capitalismo. Um conjunto de conceitos que proporcionam ao sujeito magníficas armas para ele se inserir na luta de classes.
O que mais agrada na perspectiva nova que Marx lhe apresenta (via Lukács) é exatamente o fato de que ela recusa a postura daqueles que se encastelam no plano da teoria e aponta insistentemente para a