ENTREVISTA FRANCIS FUKUYAMA
O cientista político americano afirma que o Brasil ainda não possui as bases de uma sociedade avançada e diz que a manutenção da desigualdade pode levar ao radicalismo.
Por que alguns países se desenvolvem e outros permanecem arados pelo atraso? Para o cientista político Francis Fukuyama, as teorias sobre o desenvolvimento quase sempre pecam pela "abstração excessiva (o vício dos economistas)" ou pelo "particularismo excessivo (problema comum a muitos historiadores e antropólogos)". Fukuyama, famoso mundialmente pelo livro O Fim da História e o Úhimo Homem, de 1992, procurou estabelecer uma análise mais abrangente da evolução institucional no correr dos séculos, até o surgimento das primeiras nações verdadeiramente avançadas. Em As Origens da Ordem Política, lançado originalmente em 2011 e publicado no Brasil pela Rocco, Fukuyama trata do período que vai da Antiguidade até a Revolução Francesa. No próximo ano, sairá o segundo volume de seu trabalho, Ordem Política e Decadência Política, em que estende a história até os dias atuais. A construção das modernas democracias será o centro da palestra de encerramento que o cientista político dará no seminário "O Brasil diante de um mundo em crise e transformação: riscos e oportunidades", em 29 de outubro, em São Paulo, promovido pela consultoria Tendências. Fukuyama, 60 anos, atualmente é professor da Universidade Stanford.
Em As Origens da Ordem Política, o senhor argumenta que existem três elementos indispensáveis para a construção de uma sociedade virtuosa e desenvolvida. São eles: Estado forte, Estado de direito e governo responsável perante a sociedade. Por que esses componentes são vitais?
O Estado é a expressão maior do poder, como o poder de aplicar as leis e de oferecer certos serviços exclusivos para a população. Um Estado moderno é aquele capaz de cumprir essas funções de maneira impessoal. Isso significa um Estado que trate todos os seus cidadãos de maneira indistinta,