Entrevista feita com Célio Bermann
Energia da USP (realizada em 24 de maio de 2008), durante o encontro “Xingu Vivo para Sempre”
Por Gerhard Dilger
Qual é sua avaliação do encontro Xingo Vivo Para Sempre?
A gente não pode fazer uma avaliação sem fazer referência ao que aconteceu no embate entre a população indígena e o representante do governo - no caso, o engenheiro da Eletrobrás que sofreu uma agressão_ , sem dúvida, e isso teve uma repercussão nacional. O encontro passou a estar na mídia brasileira por conta desse fato.
A forma de reação dos indígenas mostra que para eles não existe mais o caminho da negociação. Eles estão percebendo que estão sendo desconsiderados, já que os projetos das usinas hidroelétricas, e não apenas Belo Monte, coloca em questão a vida deles. Eu espero que este encontro seja entendido como um sinal de que as populações indígenas estão colocando o seu futuro em jogo e também o do governo brasileiro. As empresas devem levar em conta esta situação. Não há mais espaço para manobras, para manipulação. As populações indígenas não aceitam mais esse tipo de comportamento.
A intenção de construção de usinas hidroelétricas em áreas indígenas deve ser revista. Ela não deve mais ser entendida como algo que é eminentemente uma necessidade de produção de energia, sem levar em consideração os povos tradicionais, particularmente as populações indígenas. Se eles não quiserem, o governo precisa entender que há de se buscar outro tipo de projeto, outro tipo de arranjo, com outras características, eventualmente com potência mais baixa, para poder viabilizar a intenção de energia elétrica.
Mas o governo não está dando nenhum sinal de reconsiderar isso...
Eu considero que talvez o principal desafio para o governo é ele não passar para a historia como um governo que foi algoz das populações indígenas, porque nós estamos chegando em um momento de conflito em que o resultado é o mais