Entrevista com ONG
A odisseia de um Estranhoamor nascido para matar
Prefácio
Klockwork Kubrick
(How I Learned to Stop Worrying and Love the Maze) Negar. Denegar.
Kubrick é sinónimo de aporia. Viajamos de incerteza em incerteza, em círculo fechado, labirinto sem Ariadne, perseguidos pelos Minotauros do olhar.
A Clockwork Orange, "Aventuras de um jovem cujas principais inclinações são a violência, a violação e Beethoven" (as palavras da campanha publicitária) é mais um (e ainda) círculo fechado.
Encerrados no labirinto mental de Alex, os espectadores vão progressivamente passando de vítimas imoladas a elementos de um Coro da Tragédia Grega que clama vingança, observa, horroriza-se e revê-se.
Alex, novo Teseu, novo Ulisses, novo Dante, entra no labirinto, viaja (buscando-se a si mesmo) e passa do Céu ao Inferno, num êxtase soturno e satírico, num olhar rasgado e réprobo, até passar a 655321.
A viagem, o Topos da viagem, que nega e denega, cria e recria o castigo, destrói e constrói o crime, faz-nos entrar no labirinto do social.
Metáfora de si mesma, a viagem/percurso pela iconoclastia surge acompanhada por Guilherme Tell, ou Beethoven, entre a repulsa e o fascínio.
Cinema libertário, liberto ou livre?
O nosso olhar não está, de todo, livre.
Kubrick encerrou-nos numa catarata visual, visionária e de experiência, da palavra violenta à violência ela própria. E surge o dilema: qual a violência mais reprovável? A do Estado ou a dos jovens?
Que olhar nos oferece Alex? Ambos. Tal como diferente é a visão que temos de cada um dos seus olhos. E este não é um pormenor meramente estético. Trata-se de uma chave ideológica que nos abre as portas para os níveis da consciência.
Num estilo compósito, de olhares estilhaçados, a cena explode simultaneamente em cada plano, em cada palavra (em cada língua – "nadsat"), em lobotomias estilizadas, de leituras assimétricas, com um Alex/ Satanás / Lúcifer / Anjo Caído / Anjo Maldito, acusado e acusador,