Entre guerras
Introdução
O objetivo deste pequeno ensaio é traçar uma visão panorâmica sobre os anos 1920, tendo como linha-mestra as múltiplas crises daquele contexto, presentes na história política e cultural do Brasil. Esposo aqui a ideia de um conceito de crise onde este termo corresponde à falência das lógicas de funcionamento que norteiam a sociedade e que, assim, deixam de dar conta dos processos sociais e até mesmo de corresponder aos anseios da maioria e até mesmo da elite. Este sentido que utilizo da palavra crise nesta obra ecoa aquele que Schorske (1988, p.p 11-24) propõe em sua obra “Viena fin-de-siècle”: a crise, nesta obra, ocorre quando a fragilidade nas bases do poder da cultura liberal ficam evidentes durante o final do século XIX na capital do Império Austro-húngaro, sem conseguir dar conta da nova dinâmica social e sujeitos que buscavam participar dos negócios públicos – como eram absolutamente o oposto dos burgueses liberais que controlavam a vida cultural e política de Viena em meados do século. Logo, a crise, neste sentido, foge a qualquer ideia próxima de processos com fins necessários, ou seja, teleológicos. Por outro, não consiste em todos os momentos numa ruptura sem apelações com o passado. Em verdade, a crise, cria uma atmosfera na qual seus partícipes podem propor – e quase sempre o fazem – opções à lógica regente da sociedade, como veremos em seguida.
A crise da política da década de 1920:
Os anos 1920 são apresentados, em primeiro lugar, como um tempo de crise profunda e em vias de generalização na política. A República velha, certamente, foi uma época plena de revoltas, sobretudo em seus primeiros tempos. De Canudos a Revolta da Vacina, não se pode afirmar que os velhos “Conselheiros” do império, ao lado de industriais e cafeicultores, em suma, a elite brasileira não tenha sido desafiada por grupos que desejavam o poder, como no caso da Revolta Federalista, ou pela população em