Ensaio sobre Emília, de Otelo
Natália Ferreira Lemes da Silva¹
Otelo é, sem sombra de dúvidas, uma das grandes tragédias shakespearianas por retratar de maneira grandiosa um dos temas universais que ainda continuam a dizer da natureza humana, o ciúme. A obra, escrita provavelmente em 1603, apresenta quatro personagens principais, Otelo, Iago, Desdêmona e Cássio, e mais alguns secundários, destacando-se, entre estes, Emília. A serviçal de Desdêmona e esposa de Iago tem a sua voz usada por uma espécie de narrador que intervém para transparecer sua visão sobre os personagens e também sobre a sociedade de modo geral.
O foco desta análise voltar-se-á à Emília. Apesar de aparentemente ser um personagem secundário, ela assume uma voz peculiar no texto, pois traz ao público impressões que vão além do que ela poderia saber em sua condição. Despindo-se da imagem de uma mulher submissa e sem opinião, rejeitada pelo marido e devota à sua senhora, ela revela uma autonomia sem precedentes, expressando, além de reflexões gerais sobre a condição da mulher, toda a artimanha e desfecho resultantes do trágico ciúme de Otelo e da emboscada criada por Iago.
A escolha do nome dado à personagem já parece não ter sido uma escolha ao acaso do autor, pois prenuncia o papel que ela assumirá na tragédia. Segundo o Dicionário de Nomes Próprios, há duas possíveis origens para Emília. A primeira vem do latim Aemilius, um nome de família romana derivado de aemulus, que quer dizer “rival”. A segunda origem está ligada à mitologia grega através do nome do filho de Numa, Aimylios, que significa “o que fala de modo agradável”. Ambos os significados parecem ligar-se à personagem, já que ela assume sim papel de “rival” do próprio marido por delatar seu crime e também do próprio senhor Otelo por apontar o mal de seu ciúme ensandecido. Em relação ao “Falar de modo agradável”, podemos sugerir uma ligação com o papel dado à Emília de revelar toda a verdade por trás da trágica e injusta morte de