Ensaio referente ao romance de José de Alencar: Senhora
Marca da literatura brasileira do século XIX, o romance Senhora, baseado na intenção de romance nos moldes europeus, de José de Alencar, cria diversos impasses quanto a sua estrutura deficiente que destoa do caráter realístico literário, mas também não se apresenta com características plenamente romanescas; romance desigual em que se mesclam duas estruturas fundamentais – uma de origem burguesa com a sociedade fluminense do século XIX.
O romance é dotado de uma intenção realista, todavia essa não adquire êxito devido à interferência de caráter romântico, como dito por Schwarz, “...o seu desfecho açucarado”.
A obra divide-se em quatro partes, respectivamente: “O preço”, “Quitação”, “Posse” e “Resgate”.
Na primeira parte, nomeada “O preço”, a narrativa, iniciada in medias res, já faz menção à personagem principal da obra – Aurélia Camargo, componente de um eixo de análise psicossocial mais detalhado, complexo e aprofundado. Então, nos é apresentado o dado local (espaço), o qual nos remete à realidade social da época em questão: sociedade fluminense do século XIX; visão essa, sob olhar de cunho realista da burguesia. Outra personagem de suma importância nos é revelada, a figura de Fernando Seixas; moço de origem humilde que carrega consigo certo arremedo a nobre, a fino, extremamente preocupado com sua aparência em âmbito social, ou seja, com seu status em meio à sociedade. As demais personagens são componentes de um eixo secundário – Lemos, D. Firmina, os pais de Aurélia etc. – portanto, a elas não é dedicada uma descrição psicológica minuciosa. Nessa parte primeira da ficção, Alencar imprime a força e o predomínio do capitalismo na sociedade tratada, e o faz já no momento em que a intitula – Preço; e, posteriormente, por intermédio do dote que Aurélia expede a Seixas através do oportunista Lemos, dote esse superior ao de Amaralzinha, até então noiva de Seixas. Com isso, o rapaz, seduzido pelas cifras e