Engenharia civil
A FASCINAÇÃO PELO RESTO: O MAL-ESTAR NA TECNOCIÊNCIA
Rafael Lobato Pinheiro
A relação do homem com seus progressos tecnológicos reflete algo concernente ao fundamento de sua constituição psíquica. O medo de ter sua humanidade tragada pela tecnologia parece ser uma invariável da condição humana desde que o homem teve seu mundo desnaturalizado por sua própria intervenção técnica. [...] Devemos reconhecer que, apesar da imprecisão de generalizarmos a adoção e o uso das tecnologias, não se pode negar que desde a invenção da pólvora, da bússola e da imprensa, a história da cultural ocidental e, principalmente, da mente ocidental nunca mais foi a mesma.
Atualmente se percebe uma intervenção da tecnociência em praticamente todas as atividades da natureza e da vida humana. Vive-se um momento de forte “otimismo tecnológico” e avanço do que Lipovetsky e Serroy (2011, p. 42) denominam de “humanismo prometeico”. Prometeu, o personagem mitológico que, tendo roubado o fogo dos deuses o entregou aos homens e, como castigo, foi acorrentado e torturado perpetuamente. Personagem emblemático que expõe o anseio do homem de elevar-se sobre sua condição humana e suas tentativas de superar os limites de seu próprio corpo e da natureza, através da ciência e da técnica.
A relação homem/tecnologia remonta à constituição do mundo humano como universo simbólico, instaurado pelo aparecimento da linguagem, de modo que o primeiro artifício não-natural que interferiu definitivamente na relação do homem com o mundo ao seu redor foi a fala (SANTAELLA, 2002).
Pelo fato de falar, o homem é marcado pelo significante numa relação para sempre não natural com o mundo. É justamente neste ponto que Freud (2010) estabelece o mal-estar na cultura como a presença da insistente pulsão de morte como condição do processo de humanização do ser humano. O preço pago pelo homem por sua condição de ser simbólico é ser atravessado por esta estrutura simbólica que