enfermagem
“BICHO DE SETE CABEÇAS1
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Podemos identificar durante o filme, a existência de não apenas um, mas dois filmes dentro de “Bicho de sete cabeças”. O primeiro é uma ficção sobre um quadro familiar extremamente desgastado; o segundo, um documentário a respeito da situação dos internos nas instituições manicomiais que ainda funcionam à base de supostos métodos de tratamento na prática, extremamente cruéis.
Apesar disso, ''Bicho de sete cabeças'' é muito mais do que uma história sobre a intolerância familiar e a situação manicomial no país. É, sobretudo, um relato pungente do efeito de aniquilação a que a fragilidade das instituições e a crescente desigualdade social impõem aos habitantes da sociedade global.
É possível identificar desejos e frustrações de alguns desses '' não-seres'', quando se focaliza a juventude inocente de Neto. Ele é um adolescente típico da periferia de São Paulo, que divide o tempo entre os bancos da escola e as reuniões com amigos para fumar maconha e pichar muros. Em casa, enfrenta a austeridade do pai e da acuada mãe, com o mais puro silêncio e descaso.
Os pais e a irmã mais velha se incomodam com a ausência do rapaz e temem seu desvio moral, mas não conseguem estabelecer um diálogo ao descobrirem um cigarro de maconha no meio de seus objetos. A partir desse momento resolvem interná-lo em um manicômio, acreditando ser o lugar ideal para ''viciados'': um manicômio com a subserviência dos menos favorecidos; acreditam piamente nos dizeres dos médicos – profissionais legitimados pelo ideal do saber cientifico.
Os familiares, "cheios de boas intenções" ficam cúmplices do hospício e de suas cruéis torturas, só tirando Neto do hospício quando já era tarde. A violência sádica dos enfermeiros, que usam todos os recursos do hospício para subjulgar os pacientes, desde a antiga camisa de força, o quarto "forte" e o eletrochoque, pode levar uma pessoa a deixar de ser gente, a perder a vontade e a consciência de si, a