Encíclicas papais
No séc. XIX, em virtude da Revolução Industrial e do progresso da técnica, o cenário europeu se modificou, a ordem sócio-econômica foi transformada, afetando desastrosamente a classe operária, acarretando graves problemas sociais: as antigas estruturas foram desmontadas e o surgimento da massa de proletários assalariados determinou fortes mudanças na organização social, fazendo com que a relação capital-trabalho se tornasse uma questão decisiva de um modo até então desconhecido. Esse quadro impôs uma reavaliação do que seria a “justa ordem da coletividade”. Diante das mazelas provocadas pelo liberalismo individualista então vigente, foi tomando corpo o socialismo.
Esse quadro mundial deu ensejo, em 1891, à primeira encíclica papal sobre a questão operária – “Rerum novarum” (coisas novas) – do Papa Leão XIII (1878-1903), considerado o primeiro documento oficial de Doutrina Social da Igreja e seu pilar fundamental. Leão XIII foi um papa de vanguarda, atento à realidade, dotado de uma lucidez e um visão para além de seu tempo. A encíclica veio completar outros trabalhos do Papa durante seu pontificado (“Diuturnum”, sobre a soberania política; “Immortale Dei”, sobre a constituição cristã dos Estados e “Libertas”, sobre a liberdade humana) para modernizar o pensamento social da Igreja e da sua hierarquia. A encíclica “Rerum novarum” foi denominada pelos papas que sucederam Leão XIII de “carta magna” do Magistério Social da Igreja.
A encíclica critica fortemente a falta de princípios éticos e valores morais na sociedade laica de seu tempo, uma das grandes causas dos problemas sociais. O documento papal faz referência a alguns princípios que deveriam ser usados na procura de justiça na vida industrial e sócio-econômica, como, por exemplo, a melhor distribuição de riqueza, a intervenção do Estado na economia a favor dos mais pobres e desprotegidos, a caridade do patronato aos trabalhadores. Estabeleceu orientações a respeito dos direitos e deveres na