Empreendedorismo
Depois de perderem bons empregos na crise, executivos fundam seu próprio negócio e mudam o perfil do empreendedorismo no Brasil
Renata Betti
Dos computadores para os grelhados
O economista João Böer, 44 anos, desesperou-se quando soube que perderia seu emprego como diretor de vendas da Oracle, multinacional de tecnologia em que trabalhava havia uma década. "Só conseguia pensar em arranjar um emprego parecido, mas o telefone da minha casa não tocava", conta. Em meio à crise e sem enxergar uma saída a curto prazo, Böer tomou uma difícil decisão: ele, que jamais havia pensado em ter o próprio negócio, resolveu investir algo como 500 000 reais num restaurante de grelhados em São Paulo. Isso depois de analisar dezenas de possibilidades. "Comida está dando dinheiro", diz o economista, que já entendia o suficiente de finanças para montar uma empresa – mas nada de comida. "Fiz um curso para aprender, literalmente, o feijão com arroz."
Onde ele acertou: optou por abrir sua empresa num dos setores que mais crescem no país – o de alimentação.
Onde ele errou: dispensou um processo seletivo mais demorado e já precisou trocar três dos 22 funcionários.
A crise fez surgir no Brasil um novo tipo de empreendedor. É gente que jamais havia pensado em ter o próprio negócio até perder recentemente o emprego e se ver sem perspectiva de arranjar outro. Eles ocupavam bons cargos em grandes corporações e, juntando o fundo de garantia à rescisão de contrato, receberam, ao sair, dinheiro suficiente para começar uma empresa. Um novo estudo da consultoria DBM, uma das maiores em recolocação de executivos do mundo, dimensiona o fenômeno no Brasil – que repete, numa escala menor, o cenário nos Estados Unidos. O levantamento mostra que, desde outubro passado, o momento mais agudo da crise, cresceu em 60% o número de brasileiros que, uma vez demitidos, decidiram partir para um negócio próprio. Até agora, são algo como 100 000 pessoas. Eles não têm perfil