Em câmara lenta
Nanami Sato
Doutora em Educação pela USP, docente e pesquisadora da Faculdade Cásper Líbero
Resumo
Palavras-chave: Anos 70, clandestinidade, repressão, fragmentação narrativa, montagem.
Publicado em 1977, a obra de Tapajós, com forte carga autobiográfica, foi escrita no cárcere em 1973. Em câmara lenta, apesar de não ter estrutura linear, contém duas narrativas paralelas: a do militante clandestino que avalia o fracasso da luta armada enquanto lida com a perda da mulher amada nas mãos da repressão e a do venezuelano que se embrenha na selva amazônica com um grupo pequeno, esperando adesões para a guerrilha ao longo da caminhada. Pode-se reconhecer no livro de Renato Tapajós a marca do cineasta que ele foi (e ainda é) desde o título. Apesar de fragmentado, o leitor reconstitui facilmente o relato quando chega ao final do romance, diferentemente de outras obras do período, como Quatro olhos, de Renato Pompeu, e Zero, de Ignácio de Loyola Brandão, obra que parece concentrar todas as experiências inovadoras do código e da estrutura narrativa do período. O narrador, apesar de usar a terceira pessoa, usa um tom emocionado ao fazer o relato do cotidiano: “É muito tarde. / A imagem já se perdeu no tempo, mas está bem viva – como um corte de navalha.” [1](p. 13) - são as palavras iniciais que situam a experiência vivida no passado. A distância épica necessária à revisão do vivido, no entanto, alia-se ao envolvimento emocional trazido pela recordação. O relato fragmentado carrega um tom necessariamente pessimista porque se trata da voz narrativa de um militante clandestino encurralado pela repressão, a pressentir o fracasso das ações armadas da organização. Esse relato alterna-se com a caminhada do pequeno e quixotesco grupo em torno de um venezuelano, como a contrapor um relato subjetivo a outro, objetivado, reforçando o que parece ser a tese do livro: o fracasso a que está condenada