Elegia 1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações no encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais, sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas, e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas de dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
*Elegia era o nome dado pelos gregos a um tipo cujo tema estava ligado à morte.
Análise:
Como o próprio título já fala, Elegia quer dizer algo morto, triste, angustiante e exemplifica bem a sociedade da época no ano de 1938 um período de grande desenvolvimento industrial e uma grave crise social e política, que teria como uma das suas decorrências a Segunda Guerra Mundial. Onde o autor refere isso como um “mundo caduco”, onde as pessoas trabalham sem alegria, vivendo uma rotina onde não se tem expectativa de melhora, você tem que trabalhar e trabalhar mesmo que você não se sinta bem como isso, assim como mostra a sociedade da época, porém existem sempre aquelas pessoas que o poema se refere de maneira irônica como “Heróis” que não ligam para a sociedade a sua volta, que não tem essa angustiante rotina e por isso enchem os parques