Egito
Egito do período romano era cosmopolita e próspero. Na época em que os primeiros retratos realistas desceram às necrópoles, ainda era recente a derrota de Cleópatra, a última soberana de uma dinastia de origem helênica, a dos Ptolomeos, diante das legiões romanas. Integrado ao Império dos Césares, o Egito tornou-se uma província de economia sólida, com fartas colheitas, em especial a de trigo, proporcionadas pelas cheias anuais do Rio Nilo. O Porto de Alexandria exportava artigos de luxo e produtos manufaturados, como papiro e vidro. A mistura de costumes religiosos, de roupas e ornamentos de diferentes origens, revelada pelos retratos dos mortos, é uma lembrança do modo com que Roma administrava seus domínios. "Os romanos foram sutis e estavam mais interessados nas vantagens econômicas do que na aculturação das províncias conquistadas", diz a historiadora Eliza Torquatto Sales, da Universidade de São Paulo. "Nunca subjugaram inteiramente a civilização e a cultura do Egito, que permaneceram fortes."
A arte dessa época era um nítido retrato dessa ambivalência. Enquanto a construção de templos e palácios no tradicional estilo dos faraós sobreviveu até o final do século II, muitas estátuas de divindades e retratos passaram a ser concebidos de acordo com a linguagem artística greco-romana. E a mumificação também não escapou da influência das novas culturas. A visão mais positiva da vida após a morte atraiu os romanos assim como já havia seduzido os gregos, que aderiram aos hábitos religiosos do antigo Egito. "Foi um período em que ocorreu uma democratização do culto funerário", diz o egiptólogo Antonio Brancaglion. "O processo de embalsamamento se tornou mais simples e barato, e por isso existem muito mais múmias desse período do que faraônicas." Com isso, atletas, soldados e sacerdotes, cidadãos comuns gregos, romanos ou egípcios também puderam ser