egito
Uma freira confinada num convento cumpre a penitência de narrar a bizarra história de Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura, cavaleiro que se distingue pela impecável armadura branca — e pelo fato de não existir. Por defender a virgindade de uma donzela, Agilulfo se tornou paladino de Carlos Magno, posição que exerce com seriedade extrema. Mas aquele feito heróico é posto em dúvida. Para comprová-lo, Agilulfo sai em busca de "uma virgindade perdida quinze anos atrás", e no caminho viverá aventuras engraçadíssimas, dignas de um ótimo romance de cavalaria às avessas.
TEXTO INTEGRAL
Italo calvino
O CAVALEIRO INEXISTENTE
Tradução Nilson Moulin
1- reimpressão by Espólio de Italo Calvino, 2002 Título original
Il cavaliere inesistente
Capa Jeff Fisher
Preparação Márcia Copola
Revisão
Renato Potenza Rodrigues
José Muniz Jr.
O CAVALEIRO INEXISTENTE
1
Sob as muralhas vermelhas de paris perfilava-se o exército da França. Carlos Magno ia passar em revista os paladinos. Encontravam-se ali havia mais de três horas; fazia calor, era uma tarde de começo de verão, meio encoberta, nebulosa; quem usava armadura fervia como se estivesse em panelas em fogo baixo. E provável que, naquela fila imóvel de cavaleiros, alguém já houvesse perdido os sentidos ou cochilasse, mas a armadura os mantinha empertigados na sela de modo uniforme. De repente, três agudos de corneta: as plumas dos penachos agitaram-se pelo ar parado como depois de uma rajada de vento, e logo silenciou aquela espécie de rumor do mar que se ouvira até então, e era, deu para sentir, um ressoar das gargantas metálicas dos elmos. Finalmente, vislumbraram-no avançando lá do fundo, Carlos Magno, num cavalo que parecia maior que o natural, com a barba no peito, as mãos no arção da sela. Reina e guerreia, guerreia e reina, faz e desfaz, parecia um tanto envelhecido, desde a última vez que aqueles guerreiros o