Segundo Ciro Flamarion Santana Cardoso, em sua obra ''O Trabalho Compulsório Na Antiguidade'' a hierarquização da sociedade egípcia é um tema que gera controvérsias, em vista de que a documentação existente não deixa clara a divisão entre homens livres e escravos. Estes de fato existiam no Egito, provavelmente desde o Reino Antigo segundo G. Dykmans, quando os prisioneiros de guerras eram transformados em escravos pelo Estado, passando a ser sua posse. Mas de fato o escravo como propriedade particular ou mesmo como personalidade jurídica passou a existir apenas a partir do Reino Médio, fato confirmado pelo Papiro Brooklyn 35.1446, documento publicado por W. C. Hayes que data dos fins do próprio Reino Médio. Outros documentos do Egito Faraônico como os Texto dos Sarcófagos - proveniente do Reino Médio - e o Livro dos Mortos - proveniente do Reino Novo - também provam que essa divisão não era tão explícita como conjecturam alguns. Aliás os dois trazem uma divisão da sociedade em categorias coletivas: pat, henmmet e rehyt. Os três termos costumam ser traduzidos como ''patrícios'', ''povo solar'' e ''plebe'', de início tiveram conotações religiosas, mas com o tempo parecem ter passado a designar respectivamente a nobreza, uma espécie de gentry ou nobreza menor, e as pessoas comuns. De novo, a dicotomia citada não está presente! E também a conjectura da divisão entre livres e escravos citada acima não aparece se formos analisar a reforma social que o faraó Ramsés III (1198-1166 a.C.) teria realizado. Apesar de alguns ligarem essa reforma à uma finalidade exclusivamente militar ou à uma tendência a cristalização de castas/estamentos, o mais provável é que ela tenha ocorrido em decorrência da necessidade de redefinir as divisões e relações sociais depois de diversas migrações para o Egito de mercenários, e de inúmeros estrangeiros (líbios, por exemplo). (CARDOSO, 1984; Passim). Vale ressaltar ainda, que a situação do escravo no Egito Antigo foi se transformando