Educar em liberdade
Olivier Reboul
Se para Kant, é a educação que torna o homem humano, a disciplina – apresentada por ele como sendo negativa pois é "o que tira do homem sua selvageria" (1996, p.12) – é imprescindível na construção do conhecimento justamente por ser negativa.
Em Crítica da Razão Pura, a disciplina é assim conceituada por Kant: "denomina-se disciplina à compulsão mediante a qual se limita, e finalmente se extirpa, aquela propensão constante a divergir de certas regras" (1980a, p.350). Antecedendo o conhecimento, a disciplina apresenta-se como o elemento que prepara para o exercício do processo racional, que ainda não pode ser exercido pelo infante.
Como compreender então a apologia à disciplina reguladora dos princípios morais, feita por Kant logo na introdução de seus escritos pedagógicos e o apregoamento de uma educação emancipadora do homem, pautada na autonomia e na liberdade?
Se, na Crítica da Razão Pura, Kant coloca a questão da liberdade como uma antinomia situada na fronteira da causalidade e do determinismo, firmada na tese de que "a causalidade segundo as leis da natureza não é a única a partir da qual os fenômenos do mundo possam ser derivados em conjunto. Para explicá-los é necessário admitir ainda uma causalidade mediante a liberdade", em contrapartida apresenta sua antítese: "não há liberdade alguma, mas tudo no mundo acontece meramente segundo as leis da natureza." (1980a, p.232.). Já na Fundamentação da Metafísica dos Costumes Kant afirma com relação à liberdade: "todo ser que não pode agir senão sob a idéia da liberdade é, por isso mesmo, em