Edgar Degas
No gurpo alegre e ruidoso do Café Guerbois, há alguém que destoa. É o taciturno Degas, marginal do impressionismo. Seu aristocrático nome de origem, Edgar-Hilaire Germain de Gas, já o aparta de todos aqueles pintores da pequena e média burguesia que tramam em Paris, nos fins do século XIX, a primeira e mais fecunda revolução da arte moderna. Fato significativo: até 1873, ele assina suas obras como “De Gas”, adotando depois a simplificação conhecida, no possível intuito de se identificar com os amigos impressionistas.
Embora Degas tenha pertencido a esse grupo e figurado na maioria de suas exposições, ele é dono de uma obra singular. Raramente pinta paisagens à maneira de Monet, e apenas de modo esporádico se interessa por visões ao ar livre. Naõ busca o efêmero nas cinzas das horas, mas nos movimentos de um ser vivo. Em seus quadros, a luz é de preferência aquela de um interior e, na maior parte, artificial. A nudez, ele não a celebra como um estado natural, à semelhança de Renoir, mas como um instante de exceção, que logo as vestes virão cobrir. E Degas sempre foi mais desenhista do que pintor, enquanto os impressionistas em geral negligenciavam o desenho.
Sua própria formação o levou a exprimir-se, antes de tudo, pela linha. Ensinado por um discípulo de Ingres, esteve repetidas vezes na Itália, onde contemplou longamente as criações de Pollaiolo, Botticeli e Mantegna. O fervor com que admirou os mestres de antanho não o impediu de ter ideias avançadas. E, após frias composições históricas e mitológicas ou retratos que não carecem de garbo, começa a executar uma série de quadros com temas iguais, realísticamente tratados: músicos, bailarinas, modistas, provas hípicas, cafés iluminados.
Queria descobrir o inédito. Perseguiu os flagrantes da vida. Encontrou uma verdade enfeitiçada por sua magia de solitário.
“Nenhuma arte é menos espontânea do que a minha”, declarou Degas certa feita, confirmando essa análise paciente das impressões